O primeiro painel do segundo dia do Congresso Brasileiro de Geração de Energia Renovável – Ecoenergy abordou os desafios e as oportunidades da transição energética no Brasil com foco na descarbonização e nas estratégias do Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050).
Os painelistas desta sessão foram Jeferson Soares, assessor de Diretoria da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e Daniel Faro, gerente Geral de Geração Renovável da Petrobras. Nas duas apresentações foi possível notar a percepção em comum de que o Brasil leva vantagem e está à frente da maioria dos países quando o assunto é geração descarbonizada e potencial para energia renovável.
Faro trouxe dados que mostram que, enquanto a matriz energética global tem 16% de fontes renováveis, no Brasil isso representa 50% da matriz. “Já estamos onde muitos países querem estar no futuro, porque nossa matriz é muito limpa”, afirma. Ele reforça essa vantagem com dados do setor de transporte, no qual o biocombustível tem no país uma participação de 23% frente a 4% na média global.
Esta é uma realidade que traz muitas oportunidades de desenvolvimento do setor para uma transição de descarbonização eficiente. No entanto, alerta Soares, isso não significa que não existam muitos desafios pela frente. Ele afirma que é natural que o processo gere insegurança, com os agentes do setor buscando entender onde podem se encaixar neste futuro de energia descarbonizada.
“Transições energéticas já aconteceram em outros momentos da história”, explica Soares. “Sabemos que esse é um processo de longa maturação, que precisa ser planejado e tem que ficar de pé do ponto de vista econômico e de mercado.” Ele reforça ainda que buscar a neutralidade de carbono e a maximização de fontes energéticas não emissoras não se trata de destruir indústrias e setores, mas de encontrar soluções sustentáveis dentro de modelos econômicos viáveis.
No caso do Brasil, os desafios englobam questões socioeconômicas, como a capacidade de pagamento da população e a redução da pobreza energética. Por isso, a transição também deve ser planejada como um fator de desenvolvimento do país, além do aproveitamento das oportunidades do mercado externo.
Faro explica que, embora a Petrobras seja uma empresa ancorada na exploração de fontes fósseis de energia, ela está atenta às tendências da geração de energia renovável e tem planos sólidos para atuar nesta demanda que cresce a cada dia. Não por acaso, foi criada uma diretoria focada na geração renovável.
Um dos pontos de atenção tem sido a energia eólica offshore e o hidrogênio verde, nos quais a empresa enxerga um grande potencial de investimento, a depender dos processos regulatórios e da cadeia logística. Para a companhia, estas são fontes abundantes de energia renovável no Brasil e é preciso estar preparada para investir nestas oportunidades.
Como a regulação afeta o setor de energias renováveis?
Os aspectos regulatórios para o setor de energia limpa e renovável foram tema de debate nesta quinta (21), no Congresso Ecoenergy 2023, que acontece no WTC Events Center, em São Paulo. Bianca Bez, advogada do núcleo de Direito da Energia no BBL, moderou o painel que apontou os desafios e as oportunidades no cenário nacional, além de apontar suas peculiaridades em relação ao restante do mundo
“Nem sempre uma regulação vai ser boa para que empresas e pessoas estabeleçam bons negócios. É preciso ter um olhar mínimo, regular apenas o que é preciso. A insegurança jurídica ainda é uma questão preocupante”, apontou a moderadora do evento organizado pela Fiera Milano Brasil, com a curadoria da Blue Ocean Business Events.
A ideia vai ao encontro do que foi dito por Francine Pisni, gerente de assuntos regulatórios da AES Brasil. “É importante chegar em um ponto de equilíbrio onde a regulação compreende os dois lados. A regulação não pode limitar arranjos onde clientes possam fazer opções mais livres, para ter a percepção de fazer essas escolhas, sem prejudicar um ou outro elo da cadeia. Precisamos ter liberdade de negociação, respeitando toda a lógica do setor”, declarou.
“Não sou contra a regulação, temos que organizar a transição para ter um mercado sólido, mantendo a sustentabilidade de cada um dos negócios”, apontou Luiz Felipe Falcone, diretor regulatório da EDP. “O trabalho demanda uma evolução contínua. Será preciso muito tempo para se ter critérios e precisamos que eles sejam muito bons. Temos que atender a oferta e demanda. Possuímos um modelo de rede que nos obriga a pensar em outras alternativas, necessitamos realizar mais conexões no Brasil”, completou
Daniel Gil Lúcio, gerente de regulação técnica da CPFL Renováveis, mostrou o lado dos geradores de energia. “Precisamos dar flexibilidade para as distribuidoras, com expansão e desenvolvimento tecnológico combinados com uma estratégia de divulgação para estes investimentos. A energia vai competir com todos projetos de expansão. Fazer leilões de energia com prazos alargados para oferecer garantias às distribuidoras pode ser o melhor. Temos que fomentar essas soluções”, disse.
Caio Alves, coordenador na área de energia da Rolim Goulart Cardoso Advogados, ressaltou o papel governamental nessa discussão. “Já se tem uma exata noção de onde estão os gargalos. O que falta é discutir mais com a sociedade, estudar sugestões de carga. Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas, mas essa é função do poder concedente.
As respostas precisam atender às necessidades dos geradores. Cabe ao Estado fazer uma avaliação de maneira sustentável e justa para todos”, ponderou.
Alto potencial do mercado livre de energia e preço spot baixo estão entre as tendências para o setor elétrico brasileiro
As perspectivas da economicidade das fontes energéticas renováveis no Brasil e as projeções de preços, tarifas e cenários do setor elétrico foram alguns dos temas abordados na apresentação feita por Alexandre Viana, Chief Operations Officer da Thymos Energia e especialista sobre o setor de energia.
Como parte da programação do Congresso Brasileiro de Geração de Energia Renovável – Ecoenergy, a palestra trouxe insumos relevantes para o público presente, como o potencial de crescimento do mercado ACL, o cenário da autoprodução, a manutenção do preço spot baixo, além de discutir métodos de precificação para o setor.
Viana reforçou que, embora os preços baixos do PLD (spot) sejam positivos para o consumidor, eles têm preocupado os geradores. Em sua visão, o cenário de preços deve permanecer o mesmo, já que ele é provocado por uma sobreoferta de energia, que está entre 15% e 20%.
Este é um cenário que só mudará no futuro se houver a combinação de alguns fatores, como aumento do mercado de consumo acima do esperado, reversão da hidrologia positiva atual para uma mais baixa e atraso ou suspensão das térmicas de base, entre outros.
Para o mercado livre de energia, Viana projeta que, se até 2028 houver uma abertura completa, o potencial é de que esse mercado consuma até 80% do SIN (Sistema Interligado Nacional). Já o mercado de transmissão tende a se manter estável, com poucas mudanças, e segue interessante para quem conseguir viabilizar projetos para os leilões.
A autoprodução foi outro tema abordado por Viana, que afirma que esta é uma modalidade que pode ser mais interessante para grandes empresas e nem tão interessante para médias e pequenas. Ele atribui isso ao elevado custo de gestão desse modelo.
Outra mudança para o mercado ficar atento está no peso que a hidrologia para geração de energia terá após 2035. Viana avalia que sua relevância deverá cair a partir de então, quando outras fontes renováveis crescerem em escala e competitividade.
Implementação de projetos sustentáveis enfrenta alta oferta e baixa demanda
O lado financeiro, assim como em outros setores, pesa muito na hora de implementar um projeto de sustentabilidade. Durante o Congresso Ecoenergy, boas práticas de gestão e maneiras para reduzir riscos nos projetos foram apresentados por especilistas do setor.
Eduardo Tobias Ruiz, managing partner da Watt Capital, abriu a série de exposições mostrando que a decisão é afetada pela viabilidade técnica, pela viabilidade econômica e a análise de riscos. “É preciso analisar cada projeto de forma específica. Eles envolvem fatores de competitividade, tanto os endógenos como os exógenos e, ainda, os transversais. Estamos em um mercado com alta rivalidade e baixa demanda. Os projetos que produzem energia elétrica com menor custo têm mais chances de serem implementados”, destacou.
Na sequência, Fábio Bortoluzo, Structured Finance Director da Atlas Renewable Energy, ponderou os riscos dos investimentos apontando que, ao tomar a decisão de investir no projeto, é preciso observar quanto da energia a ser gerada está vendida. “Olhar 20, 30 anos faz toda a diferença para encontrar o retorno adequado. Temos provocado instituições financeiras para proteger do risco de commodities, especialmente na energia. Ela ainda carece de liquidez, especialmente por uma questão de mercado do aço no mercado brasileiro”, avaliou.
Serviço
Congresso Ecoenergy 2023
Data: 20 a 22 de setembro
Local: World Trade Center Events Center
Endereço: Avenida das Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo, São Paulo, Brasil
Inscrições: https://congressoecoenergy.com.br/
Mais informações através do e-mail congresso@congressoecoenergy.com.br ou dos telefones: (11) 5585-4355 e (11) 3159-1010.
Sobre a Fiera Milano Brasil
A Fiera Milano Brasil é a filial brasileira da Fiera Milano, um dos maiores players de feiras e congressos do mundo que a cada ano atraem aproximadamente 30 mil expositores e mais de cinco milhões de visitantes. No Brasil, são realizadas sete feiras que representam os mais diversos segmentos da economia, como segurança, energias limpas e renováveis, tubos e conexões, cabos, saúde no trabalho, tecnologias em reabilitação, inclusão e acessibilidade, entre outras. Entre as principais marcas do portfólio estão Exposec, Fisp, Fire Show, Congresso Ecoenergy, Reatech, Tubotech e wire South America. Mais informações: www.fieramilanobrasil.com.br
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